“Ministro alemão da Economia e o presidente do Eurogrupo,
Juncker, consideram que a saída da Grécia do euro é "gerível".
Importam-se de repetir? Se a Grécia sair do euro, isso pode bem desencadear um
processo de desintegração do euro
O euro é um projecto insustentável, por duas razões
principais. Em primeiro lugar, porque permitiu a acumulação de desequilíbrios
muito superiores ao que existiriam com moeda própria. A Grécia jamais poderia
acumular as dívidas que hoje tem, a Irlanda jamais assistiria a uma tão grande
expansão do seu sistema bancário, Portugal jamais poderia ter uma dívida
externa de 100% do PIB, Espanha nunca teria embarcado numa tão grande bolha
imobiliária. Mas, mais grave do que permitir desequilíbrios maiores, o euro
deixa os países com menos instrumentos para os corrigir, em particular o
instrumento cambial, o que torna as correcções muitíssimo mais difíceis.
Em segundo lugar, com moeda própria, a variável que sinaliza
os problemas – a taxa de câmbio – ajuda a resolver esses mesmos problemas. No
euro, a variável que serve de alerta – a taxa de juro de longo prazo – agrava
todos os desequilíbrios. Quando percebi este aspecto, nos finais de 2010,
fiquei convencido de que os dias do euro estavam contados.
Há quem imagine que há soluções para os problemas do euro,
mas se há soluções tecnicamente viáveis, elas são politicamente impossíveis.
Dado o melindre de escrever sobre o fim do euro, adiei ao
máximo isso, mas em Dezembro do ano passado comecei a escrever um livro sobre
isso, que deveria estar pronto em Abril. Vicissitudes várias fizeram com que o
projecto se atrasasse e só este mês deverá estar disponível, com o título
"O fim do euro em Portugal?", numa edição da Actual Editora, do Grupo
Almedina.
Apesar do ponto de interrogação no título estou firmemente
convencido, não só de que o euro deixará de ser a moeda em Portugal, como de
que isso ocorrerá até ao final deste ano.
Os problemas estruturais do euro estão lá, mas as
autoridades europeias têm-se esmerado em tornar as coisas ainda piores. Mario
Draghi, tinha-nos pedido para acreditarmos nele, que o BCE tudo faria para
preservar o euro. Afinal o BCE pondera voltar a comprar obrigações dos países
em dificuldades, mas apenas DEPOIS de estes pedirem ajuda, que virá sob fortes
restrições. Então a intervenção do BCE não era para evitar que estes Estados
chegassem ao ponto de ter de pedir auxílio?”