sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Para a matança?


Entre as as barbaridades que vão saindo de S. Bento, há uma especialmente perturbante: a redução do subsídio de desemprego mínimo para 377 euros para beneficiários com agregado familiar e 300 euros para benificiários isolados. A medida afecta 150 mil desempregados. Isto sabendo que cerca de 300 mil desempregados inscritos nos centros de emprego não recebem qualquer prestação social. Junte-se os que já nem se inscrevem e percebemos a dimensão da catástrofe social: cerca de dois terços dos desempregados reais não têm meios de subsistência.

A aproximação do subsídio de desemprego ao salário mínimo nacional tem um sentido: a de que é, para uma família em idade ativa, virtualmente impossível viver com menos do que isso. Para defendermos a redução do subsídio mínimo teríamos de aceitar que os desempregados são merecedores de menor dignidade do que os restantes cidadãos.

Sejamos claros: esta redução de 10% num subsídio já miserável é a fronteira entra a pobreza extrema e a indigência. Como disse Fernando Alves, na TSF, "não revela apenas insensibilidade social, mas desprezo pelos mais desamparados".

E esta é a pedra de toque deste governo: um desprezo absoluto pelos mais pobres. Na realidade, é um desprezo que, nos últimos anos, fez o seu caminho em grande parte da sociedade. Generalizou-se em relação aos beneficiários do Rendimento Social de Inserção - que já poucos políticos ou comentadores se atrevem a defender - e em relação aos desempregados, espalhando-se a ideia de que se tratam de preguiçosos. Este racismo social tem uma função política poderosa: isolar os mais pobres para, com mais facilidade, atacar o Estado Social. Começam-se nas prestações sociais mais impopulares para, a partir daí, ir às seguintes. Depois do RSI, o subsídio de desemprego. Depois do subsídio de desemprego, as reformas. No fim, claro, o grande objetivo: os salários. Tal como as reformas e o subsídio de desemprego, para o qual os trabalhadores descontaram na sua vida de trabalho, o salário já quase é visto como uma esmola e não como um direito.

Surge, em cada vez mais gente, a ideia de que quem recebe o subsídio de desemprego se deve dedicar a limpar matas e a trabalhar à borla para o Estado. A defesa deste princípio ignora que o dinheiro deste subsídio é dos trabalhadores. Foram eles que o deram ao Estado para, num momento difícil, não ficarem sem nada. Ou seja, vão trabalhar duas vezes para receber o mesmo. Esta ideia de o tal subsídio deve corresponder um serviço para o Estado cumpre três funções: passar a tratar o subsídio de desemprego como uma esmola, retirar a sua função reguladora (impedindo, com o aumento dos desempregados, uma queda acentuadíssima dos salários), criar condições para que eles sejam um indicador do que deve ser o salário praticado e passar a ideia de que quem recebe o subsídio só está desempregado porque quer.

Sim, é verdade que estamos a assistir a um ataque sem precedentes à classe média. Mas seria bom não nos fecharmos no nosso pequeno cantinho. O ataque aos mais pobres é ainda mais brutal. Porque, neste caso, estamos a falar da sua própria sobrevivência física. Basta fazer este esforço: imaginar o que é alimentar, vestir e garantir casa uma família com 377 euros, todos os meses. E, no meio, ainda ter recursos para conseguir procurar emprego. É condenar cada vez mais gente a um ciclo interminável de pobreza. E assim aumentar o exército de reserva que substitui, a qualquer preço e em quaisquer condições, os trabalhadores no ativo.

O governo recuou na medida. Mais uma vez, o truque do costume: avança-se com o inaceitável. Provando-se escandaloso, recua-se e propõe-se outra coisa, só um bocadinho menos pornográfica. Que, por comparação, pareça civilizada. Chama-se a isto brincar com as pessoas. Começa a ficar repetitivo.

Entre as barbaridades que vão saindo de São Bento, há uma especialmente perturbante: a redução do subsídio de desemprego mínimo para 377 euros para beneficiários com agregado familiar e 300 euros para benificiários isolados. A medida afecta 150 mil desempregados. Isto sabendo que cerca de 300 mil desempregados inscritos nos centros de emprego não recebem qualquer prestação social. Junte-se os que já nem se inscrevem e percebemos a dimensão da catástrofe social: cerca de dois terços dos desempregados reais não têm meios de subsistência.

A aproximação do subsídio de desemprego ao salário mínimo nacional tem um sentido: a de que é, para uma família em idade ativa, virtualmente impossível viver com menos do que isso. Para defendermos a redução do subsídio mínimo teríamos de aceitar que os desempregados são merecedores de menor dignidade do que os restantes cidadãos.

Sejamos claros: esta redução de 10% num subsídio já miserável é a fronteira entra a pobreza extrema e a indigência. Como disse Fernando Alves, na TSF, "não revela apenas insensibilidade social, mas desprezo pelos mais desamparados".

E esta é a pedra de toque deste governo: um desprezo absoluto pelos mais pobres. Na realidade, é um desprezo que, nos últimos anos, fez o seu caminho em grande parte da sociedade. Generalizou-se em relação aos beneficiários do Rendimento Social de Inserção - que já poucos políticos ou comentadores se atrevem a defender - e em relação aos desempregados, espalhando-se a ideia de que se tratam de preguiçosos. Este racismo social tem uma função política poderosa: isolar os mais pobres para, com mais facilidade, atacar o Estado Social. Começam-se nas prestações sociais mais impopulares para, a partir daí, ir às seguintes. Depois do RSI, o subsídio de desemprego. Depois do subsídio de desemprego, as reformas. No fim, claro, o grande objetivo: os salários. Tal como as reformas e o subsídio de desemprego, para o qual os trabalhadores descontaram na sua vida de trabalho, o salário já quase é visto como uma esmola e não como um direito.

Surge, em cada vez mais gente, a ideia de que quem recebe o subsídio de desemprego se deve dedicar a limpar matas e a trabalhar à borla para o Estado. A defesa deste princípio ignora que o dinheiro deste subsídio é dos trabalhadores. Foram eles que o deram ao Estado para, num momento difícil, não ficarem sem nada. Ou seja, vão trabalhar duas vezes para receber o mesmo. Esta ideia de o tal subsídio deve corresponder um serviço para o Estado cumpre três funções: passar a tratar o subsídio de desemprego como uma esmola, retirar a sua função reguladora (impedindo, com o aumento dos desempregados, uma queda acentuadíssima dos salários), criar condições para que eles sejam um indicador do que deve ser o salário praticado e passar a ideia de que quem recebe o subsídio só está desempregado porque quer.

Sim, é verdade que estamos a assistir a um ataque sem precedentes à classe média. Mas seria bom não nos fecharmos no nosso pequeno cantinho. O ataque aos mais pobres é ainda mais brutal. Porque, neste caso, estamos a falar da sua própria sobrevivência física. Basta fazer este esforço: imaginar o que é alimentar, vestir e garantir casa uma família com 377 euros, todos os meses. E, no meio, ainda ter recursos para conseguir procurar emprego. É condenar cada vez mais gente a um ciclo interminável de pobreza. E assim aumentar o exército de reserva que substitui, a qualquer preço e em quaisquer condições, os trabalhadores no ativo.

O governo recuou na medida. Mais uma vez, o truque do costume: avança-se com o inaceitável. Provando-se escandaloso, recua-se e propõe-se outra coisa, só um bocadinho menos pornográfica. Que, por comparação, pareça civilizada. Chama-se a isto brincar com as pessoas. Começa a ficar repetitiva.




 






 

terça-feira, 23 de outubro de 2012

esperou...


O policial de trânsito, diz à motorista:

- "Vou lhe dar a oportunidade de procurar outra vez sua Carteira de Motorista!"

- "Olha policial, já procurei seis vezes no porta luvas e não encontro o documento. Acho que perdi".

- "Calma. Pode demorar o tempo que quiser, mas procure de novo no porta luvas. Pode ser que esteja nervosa e não tenha procurado direito!"

- "Ok! Vou procurar novamente."

- "Tenha calma! Posso esperar."




 

domingo, 21 de outubro de 2012

Confio unicamente na tua obra, em ti; quem mais chora – agora e sempre – é a cultura portuguesa e quem liga a isso.




O único consolo que sinto ao pensar na inevitabilidade da minha morte é o mesmo que se sente quando o barco está em perigo: encontramo-nos todos na mesma situação.”

Léon Tolstoi

“Uma casa é as ruínas de uma casa, 

uma coisa ameaçadora à espera de uma palavra; 

desenha-a como quem embala um remorso, 

com algum grau de abstracção e sem um plano rigoroso”,

                            ---=---

“ (…) Só quero um sítio onde pousar a cabeça.

Anoitece em todas as cidades do mundo,

acenderam-se as luzes de corredores sonâmbulos

onde o meu coração, falando, vagueia.”

(Manuel António Pina)

                 ----0----

"A gente vê-se um dia por Aí" e depois falamos!

 

CONTO AZUL

Certa vez, tinha eu quinze anos, inventei uma história que principiava

assim:

"A primeira coisa que faz os defuntos, depois de enterrados, é

abrirem novamente os olhos".

Mas fiquei tão horrorizado com essa espantosa revelação que não me

animei a seguir avante e a história gorou no berço, isto é, no túmulo.

 

(Mario Quintana; Sapato Furado, 1994)

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Para quem?


O economista João Duque diz que as contas de Portugal estão a ser mal feitas e que não será possível cumprir as metas traçadas.

"Há uma falha dos modelos. Vejam o que foi o orçamento de 2012", apelou, durante o evento IDC Directions que decorreu no Estoril. "Tínhamos uma previsão de cobrança do IRS, IRC e do IVA. Com base na última execução orçamental, vejam qual era a previsão e a realidade", continuou, mostrando quadros comparativos. O IRS subiu, o IVA desceu.

"Os orçamentos só servem para apontar os desvios, e isto são desvios colossais", frisou. João Duque considera que, perante as "grandes alterações que estão a ser impostas à economia portuguesa, e que os modelos não comportam", não se pode prever qual será o comportamento da economia.

"Os portugueses perderam poder de compra e desataram a poupar. Oops", gracejou, referindo que "em termos colectivos" o comportamento é, por vezes, inesperado.

"O que se passa na economia portuguesa é isto. Eu sinto-me uma cobaia porque não é possível ter a mais pálida ideia de qual vai ser o comportamento perante um ataque fiscal como o que se vai fazer. No entanto, as previsões estão lá. Não tenho confiança absolutamente nenhuma no modelo", assinalou.

 Apesar do cenário negro, o economista acredita que Portugal "será um país repleto de oportunidades daqui a dez, quinze anos", depois de um êxodo provocado pela crise. "Portugal pode ser um país virado para a atracção da terceira idade da Europa. Pode ser um país de logística", sugeriu.

João Duque pretende que o futuro seja pensado de forma abrangente. "Pagar as contas é apenas tratar das urticárias, não é mudar Portugal. E o nosso problema não é financeiro, apesar de ter essa aparência. As contas estão a ser mal feitas", concluiu.  

Mostrando quadros com os vencimentos de dívida dos próximos anos, João Duque garantiu que não será possível pagar.

domingo, 14 de outubro de 2012

Lindas sandálias, Amélia.


(Coluna de opinião do Semanário Expresso)


                                                                   (Coluna de opinião do Semanário Expresso)

Nicolau Santos

 

 Senhor Primeiro-ministro,

depois das medidas que anunciou sinto uma força a crescer-me nos dedos e uma raiva a nascer-me nos dentes. Também eu, senhor Primeiro-ministro. Só me apetece rugir!…O que o Senhor fez, foi um Roubo! Um Roubo descarado à classe média, no alto da sua impunidade política! Por isso, um duplo roubo: pelo crime em si e pela indecorosa impunidade de que se revestiu. E, ainda pior: Vossa Excelência matou o País! Invoca Sua Sumidade, que as medidas são suas, mas o défice é do Sócrates! Só os tolos caem na esparrela desse argumento. O défice já vem do tempo de Cavaco Silva, quando, como bom aluno que foi, nos anos 80, a mando dos donos da Europa, decidiu, a troco de 700 milhões de contos anuais, acabar com as Pescas, a Agricultura e a Industria. Farisaicamente, Bruxelas pagava então, aos pescadores para não pescarem e aos agricultores para não cultivarem. O resultado, foi uma total dependência alimentar, uma decadência industrial e investimentos faraónicos no cimento e no alcatrão. Bens, não transaccionáveis, que significaram o êxodo rural para o litoral, corrupção larvar e uma classe de novos muitíssimo-ricos. Toda esta tragédia, que mergulhou um País numa espiral deficitária, acabou, fragorosamente, com Sócrates. O défice é de toda esta gente, que hoje vive gozando as delícias das suas malfeitorias. E você é o herdeiro e o filho predilecto de todos estes que você, agora, hipocritamente, quer pôr no banco dos réus? Mas o Senhor também é responsável por esta crise. Tem as suas asas crivadas pelo chumbo da sua própria espingarda. Porque deitou abaixo o PEC4, de má memória, dando asas aos abutres financeiros para inflacionarem a dívida para valores insuportáveis e porque invocou como motivo para tal chumbo, o carácter excessivo dessas medidas. Prometeu, entretanto, não subir os impostos. Depois, já no poder, anunciou como excepcional, o corte no subsídio de Natal. Agora, isto!
A a este colossal embuste, que é o Orçamento Geral do Estado. Diz Vossa Eminência que não tinha outra saída. Ou seja, todas as soluções passam pelo ataque ao Trabalho e pela defesa do Capital Financeiro. Outro embuste. Já se sabia no que resultaram estas mesmas medidas na Grécia: no desemprego, na recessão e num défice ainda maior. Pois o senhor, incauto e ignorante, não se importou de importar tão assassina cartilha. Sem Economia, não há Finanças, deveria saber o Senhor. Com ainda menos Economia (a recessão atingirá valores perto do 5% em 2012), com muito mais falências e com o desemprego a atingir o colossal valor de 20%, onde vai Sua Sabedoria buscar receitas para corrigir o défice? Com a banca descapitalizada (para onde foram os biliões do BPN?), como traçará linhas de crédito para as pequenas e médias empresas, responsáveis por 90% do desemprego? O Senhor burlou-nos e espoliou-nos. Teve a admirável coragem de sacar aos indefesos dos trabalhadores, com a esfarrapada desculpa de não ter outra hipótese. E há tantas! Dou-lhe um exemplo: o Metro do Porto. Tem um prejuízo de 3.500 milhões de euros, é todo à superfície e tem uma oferta 400 vezes (!!!) superior à procura. Tudo alinhavado à medida de uns tantos autarcas, embandeirados por Valentim Loureiro. Outro exemplo: as parcerias público-privadas, grande sugadouro das finanças públicas. Outro exemplo: Dizem os estudos que, se V. Ex.ª cortasse na mesma percentagem, os rendimentos das 10 maiores fortunas de Portugal, ficaríamos aliviadinhos de todo, desta canga deficitária. Até porque foram elas, as grandes beneficiárias desta orgia grega que nos tramou. Estaria horas, a desfiar exemplos e Você não gastou um minuto em pensar em deslocar-se a Bruxelas, para dilatar no tempo, as gravosas medidas que anunciou, para Salvar Portugal! Diz Boaventura de Sousa Santos que o Senhor Primeiro-ministro é um homem sem experiência, sem ideias e sem substrato académico para tais andanças. Concordo! Como não sabe, pretende ser um bom aluno dos mandantes da Europa, esperando deles, compreensão e consideração. Genuína ingenuidade! Com tudo isto, passou de bom aluno, para lacaio da senhora Merkel e do senhor Sarkhozy, quando precisávamos, não de um bom aluno, mas de um Mestre, de um Líder, com uma Ideia e um Projecto para Portugal. O Senhor, ao desistir da Economia, desistiu de Portugal! Foi o coveiro da nossa independência. Hoje, é, apenas, o Gauleiter de Berlim. Demita-se, senhor primeiro-ministro, antes que seja o Povo a demiti-lo.

 

 

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Este aumento de impostos é um grito


“. Não tem lógica, não tem política, não tem justiça, não tem estudos, não tem regras, não tem sequer coerência ideológica. É uma arma que metralha contra uma selva escura. Impostos, impostos, impostos. [...] O Governo destratou os portugueses quando criou uma tropa de elite para tratar dos mercados e deixou vazia a cadeira da política, onde se fala ao povo. Agora, o Governo precisa do povo. Mas falha-lhe, não lhe dá o que povo exige. Merece. Precisa. [...]

Como podemos acreditar que há equidade sem dados para percebê-lo? Quanto vão pagar as concessionárias de PPP, se é que vão? Qual é a taxa sobre transacções financeiras? Que "grandes lucros" de empresas vão ser tributados? Qual a dimensão da economia paralela?

Como será cortada despesa do Estado em quatro mil milhões de euros, como a troika obriga? Vão despedir militares, polícias? Vão cortar prestações sociais, subsídio de desemprego? Quanto? A quem? Não é uma falácia dizer que os portugueses vão ficar melhor em 2013 do que ficariam com a TSU, quando muitos vão ficar pior que em 2012? Como havemos de acreditar que a economia "só" decresce 1% no próximo ano? O que nos garante que não entramos em espiral recessiva? Por que razão a receita fiscal não quebrará no próximo ano se quebrou neste? Quando acaba afinal esta crise? Em 2014? Em 2018? Em dois mil e nunca? Que ambição podemos ter? Que gerações têm esperança? Que legado deixaremos? Sem respostas, os portugueses não sabem sequer quanto dinheiro vão ter daqui a três meses, quanto mais se acreditam no País. [...] Estamos mais pobres, mas há cada vez mais ricos.)”