Ao Abril que Novembro matou, procurei novos amores!!! Prova isso a Esperança que voltou...
terça-feira, 29 de janeiro de 2013
sexta-feira, 25 de janeiro de 2013
pariu a todos
“Assunção Cristas diz que sector da água é “insustentável do
ponto de vista económico”
Ela bem que rezava para que chovesse, agora percebe-se por
quê. Também estará a pensar em privatizar a água da chuva? “La ley indicaba
además que la población requeriría una licencia para recoger el agua de
lluvia,”
“Ó Cristas, nina, o Saramago enviou-te uma mensagem, ora lê:
«Privatize-se tudo, privatize-se o mar e o céu, privatize-se
a água e o ar, privatize-se a justiça e a lei, privatize-se a nuvem que passa,
privatize-se o sonho, sobretudo se for diurno e de olhos abertos. E finalmente,
para florão e remate de tanto privatizar, privatizem-se os Estados, entregue-se
por uma vez a exploração deles a empresas privadas, mediante concurso
internacional. Aí se encontra a salvação do mundo… e, já agora, privatize-se
também a puta que os pariu a todos.»
José Saramago,
“Cadernos de Lanzarote – Diário III” pag. 148
quinta-feira, 17 de janeiro de 2013
A Républica das Putas
«A expressão
não é original, mas o plágio é deliberado. Quando Josef Skvorecky escreveu o
livro A República das Putas, havia na então Checoslováquia o sentimento de um
país traído, entregue ou vendido a uma ideologia questionável, por uma classe
dominante corrupta e por políticos que eram de facto putas, metafórica e
literalmente. No caso de Portugal não houve tanques a entrar pelo país e a
ideologia a que fomos vendidos será a outra, supostamente oposta. Mas de resto
a história é tal e qual, especialmente no que diz respeito à qualidade e
moralidade dos políticos.
E o pior é
que paga o justo pelo pecador, ou pelo menos há pecadores, a nível mundial, que
não pagaram nada. Até isto se resolver não me parece que faça grande sentido
ser optimista, ou filosofar sobre o estado das letras e das ciências. Antes
falar de tourada.
Ainda deve
haver por aí quem se lembre da Dona Branca, a autodenominada banqueira do povo.
Para quem não sabe, era uma senhora que mais não fazia que comprar e vender
dinheiro, fazê-lo circular, o que lhe era levado de novo era usado para pagar
juros chorudos aos que já lá estavam, e cada vez havia mais. Ela arrecadava uma
comissão, a coisa foi crescendo até que um dia PUM, foi tudo pelos ares.
Recordo-me de uma Dona Arminda, que lavava as escadas lá do prédio, que perdeu
as poupanças todas nestas andanças, ainda me lembro da senhora a chorar muito,
faz-me lembrar o Portugal de hoje. E a Dona Branca inevitavelmente foi dar com
os costados na prisão, coitada da senhora, estava muito avançada para a época,
se fosse hoje davam-lhe um bónus de milhões, e teria uma posição de topo na
Wall Street.
Não sejamos
hipócritas, já todos recorremos aos bancos, e houve tempos em que o mundo das
finanças fazia algum sentido. Precisava-se de algo agora, a ser pago com
dinheiro que se iria ganhar mais tarde, os bancos tratavam da necessária
máquina do tempo financeira. Em Itália vai-se a uma terriola qualquer, e lá
há-de estar a Caixa Agrícola de Montemerdini, ou lá o que for: emprestava para
se comprar os adubos, as sementes, as alfaias, e quando se fazia a colheita pagava-se,
ficava tudo contente, belos tempos. Eram tempos em que o capitalismo tinha um
lado quase bom, ou pelos menos paternalista. Claro que a pobreza era extrema, e
deixa lá as coisas correrem mal e logo se via quem passava fome. Mas o capital
nesses tempos era usado para produzir riqueza real, e o sistema financeiro
apoiava o processo, conduzia a coisas que se viam, que resultavam em produtos
tangíveis e reais.
O
capitalismo de hoje é bem mais tenebroso. Os jogos financeiros contemporâneos
são tão abstractos e autoreferenciais que trocando a coisa por miúdos mais não
são do que comprar e vender dinheiro, como fazia a Dona Branca. Por razões que
nunca entendi, muitas das galinhas dos ovos de ouro, em Londres e Nova Iorque,
são físicos teóricos e matemáticos falhados, ex-colegas meus em alguns casos.
Temos tido acesas discussões, mas numa coisa concordamos: a teoria do caos e o
Lema de Ito que se lixe, aquilo é simplesmente jogar na lotaria. Como é que
trocar acções por computador ao microssegundo, como se tem vindo a propor, pode
corresponder a alguma operação económica real? Aquilo é verdadeiramente a Dona
Branca: uma pescadinha de rabo na boca financeira, "financiar o
financiamento das finanças financiadas", num jogo bem enterrado no umbigo
da Wall Street e da City de Londres, um totoloto mundial mas com um belo seguro
contra perdas: quando se ganha, ganham eles; quando se perde, pagamos todos, em
cascata. E é aí que entram as tais putas, especificamente as nacionais.
Ao longo dos
anos vimos o país a endividar-se com coisas que eram precisas e coisas que não
eram. Tínhamos um serviço nacional de saúde do terceiro mundo e uma taxa de
mortalidade infantil a condizer, analfabetismo e subdesenvolvimento a níveis do
Subsara... e as coisas mudaram dramaticamente nos últimos 20 anos. Saí de
Portugal em 1989 e sempre que voltava via algo de novo que era genuinamente
preciso: portos para pescadores, estradas ao nível europeu, uma enorme expansão
do ensino, etc., etc. E claro que tudo isto custa dinheiro, mas podia
argumentar-se que se a Europa não queria ter um país do terceiro mundo no seu
seio que o pagasse.
Mas onde a
porca torce o rabo é que se via também uma orgia de infraestruturas
desnecessárias: túneis nas entranhas da Madeira que levavam a lado nenhum,
estradas em duplicado nos cus de judas regionais, coisas tão ridículas que
davam vontade de rir. Foram-se fazendo obras públicas completamente faraónicas,
de novo-rico que não sabe o que há-de fazer ao dinheiro. Tornava-se óbvio que
se construíam infraestruturas, não para preparar o futuro, mas sim para
alimentar o presente, numa cumplicidade corrupta entre Estado e empresas
privadas, em que o último elo da cadeia era o mundo das finanças
internacionais. E esses andavam entretidos com os seus jogos de totoloto, e
quando a bolha rebentou lixou-se o proverbial mexilhão, tradução, nós.
Como
Skvorecky notava, as "putas" que tinham antes vendido o seu país aos
nazis eram as mesmas que agora acolhiam os soviéticos (e mais tarde, muito
depois de o livro ser publicado, acolheriam o capitalismo selvagem, sem que ele
o soubesse). O mesmo se passa no nosso caso: não tenham dúvidas de que em
tempos de fascismo os nossos primeiros-ministros teriam sido rapazes de
sucesso. Mas de certa forma estamos a bater no ceguinho. Se eles (e nós, por
extensão) fizeram figuras tristes e agora estamos a pagar por isso, houve quem
fez pior e se está agora a rir. Os usurários mundiais nem sequer construíram
túneis inúteis: construíram castelos de valores inexistentes, que continuam a crescer
e a alimentar a sua ganância. Até isto se resolver falemos de tourada, porque
não faz muito sentido discutir o estado da nossa sociedade, e o demais, em
2013.
Aliás,
parece-me que a nossa sociedade estaria muito bem, muito obrigado, se não fosse
este "pequeno detalhe" político e financeiro. Por exemplo: a
sociedade portuguesa é muito mais sã do que a inglesa. Na Inglaterra, quem abre
a boca inevitavelmente vomita uma etiqueta de classe social autenticada. Os
famosos sotaques britânicos fornecem informações precisas sobre a classe, uma
pena não se ensinar isto nas aulas de inglês do secundário que cá se apanham. E
este simples facto cria uma quase ausência de mobilidade e interacção entre as
classes; pior, torna as pessoas em estereótipos da sua classe social. Por
exemplo, a classe operária inglesa força-se a seguir um cliché de ignorância e
estupidez, atitudes racistas e xenófobas, contra a cultura e a educação. A sua
imagem de marca é falar com erros de gramática que em Portugal só um atrasado
mental cometeria... assim as classes superiores os têm vindo a controlar.
Nada disto
se passa em Portugal (e já agora na Grécia, onde se encontram camponeses
analfabetos a pagar a educação dos filhos em Cambridge). Ainda fui daqueles que
tiveram de ir fazer a inspecção para a tropa, estava já então em Inglaterra, e
o que mais me impressionou foi que entre os 500 "mancebos" de pirilau
de fora que lá estavam, não se sabia de que classe era quem (tirando os casos
extremos de dois grosseiríssimos labregos e de um pretendente à coroa). Ora na
Inglaterra nada disto seria assim, e com graves consequências: ao contrário de
Inglaterra, se há cultura e identidade neste país, elas residem precisamente na
classe trabalhadora. E diria que é este o maior potencial de Portugal: temos
uma sociedade muito mais saudável, em termos de identidade e de classe, apesar
de todos os problemas com que nos deparamos.
Sim, éramos
um país de pobres que passou temporariamente a um país de novos-ricos. Mas
agora somos um país de novos-pobres: miúdos cheios de talento desempregados há
dois anos, pessoal de ponta a emigrar para o estrangeiro, médicos educados cá a
colmatarem as faltas de sistema de saúde inglês... um desperdício óbvio de uma
geração. Em vez de usarmos estas fontes de rendimento, deixámos os tanques
financeiros entrar pelo país, para aumentar os impostos e baixar os salários,
já de si entre os mais baixos da Europa.
Não sei se
haverá soluções milagrosas, mas uma quebra total com o que se tem vindo a fazer
é evidentemente necessária. Lembro-me de uma senhora perguntar a um médico meu
amigo se podia usar água benta para a sua enfermidade. O médico respondeu-lhe
que sim, mas que a fervesse primeiro. Não me parece que doses sucessivas de
banha da cobra sejam a solução dos nossos males. Muita da nossa dívida, e
consequente austeridade, não é legítima, em perfeita analogia com as dívidas
contraídas pelas prostitutas, e que as mantêm nas malhas dos seus donos. Se a
nível mundial algo tem de ser feito para refrear os chulos financeiros, a nível
nacional um corte com o passado seria um primeiro passo. Ou então que se dê o
Prémio Nobel da Economia à Dona Branca. E viva a República das Putas.»
João
Magueijo (físico teórico do Imperial College, em Londres), Público 11/1/2013
(via Entre as
brumas da Memória e No Vazio da Onda.
sábado, 12 de janeiro de 2013
internet.
"Eu ainda sou do tempo (pronto, lá vem este…) em que não
havia internet.
- Jura?
- Juro.
- Incrível!
- Pois é.
- E as galinhas também tinham dentes?
- Vê lá se queres ficar como as galinhas… E como não havia
internet, acontecia-me muitas vezes, durante a leitura de um livro, cruzar-me
com a descrição de uma pintura que eu desconhecia. Ora, como fazer então para
encontrá-la? Se tivesse algum livro à mão sobre determinado autor ou corrente
ainda podia tentar, mas raramente conseguia, porque os escritores não se põem a
falar de um qualquer quadro que toda a gente conhece, não é assim? Qual é o
interesse em descrever os girassóis do Van Gogh ou a Gioconda? Nenhum, a não
ser que o autor se chame Dan Brown ou algo do género. Mas o mais irritante
acontecia quando o autor se lembrava de panegiricar (é escusado ir ao
dicionário, não existe) uma determinada pintura até ao infinito, pois já se
sabia que era quase impossível encontrá-la. Podia-se tentar em bibliotecas,
livrarias e nada. Sempre que o elogio e a descrição eram extensas, pimba, era
tiro e queda, mais valia procurar o santo graal que tínhamos mais hipóteses de
sucesso. É assim como aquelas conversas de café: eia, pá, aquele disco é muito
bom, conheces?
- Conheço, mas o
melhor é o X.
- Não conheço.
- Pois não, é um bootleg e só existem 3 cópias, mas é de
longe o melhor disco dessa banda.
- Ora foda-se!
- Ou, então, com os filmes: vi ontem um filme do caraças,
daquele realizador moldavo, conheces?
- Conheço, mas esse não é o melhor dele. O melhor vi eu, numa cave em mil novecentos e
troca o passo, na antiga União Soviética, numa sessão privada, e que nunca
mais foi repetida. Esse, sim, é de longe o melhor filme dele.
- Olha, sabes que mais? Vai cagar, man. O melhor é sempre
aquilo que ninguém, ou quase ninguém, pôs os olhos ou os ouvidos em cima.
Adiante (ou avante, é à escolha).
Agora, como se pode ver pelo post em baixo, sempre, ou
melhor, quase sempre, quer dizer, às vezes, quando me cruzo como uma passagem
dessas trato logo de pesquisar a tal pintura e colocar aqui no arquivo. Ainda
não concluí se é uma vantagem, porque tenho a sensação de que anteriormente
aquela descrição perdurava mais na minha memória. Em contrapartida, também me
esquecia mais frequentemente dessas passagens do livro. Entre perdas e ganhos
julgo que, para já, a internet leva vantagem.
- Conheces aquele filme de um realizador do Bornéu?
- Não.
- Eia, pá, que filmaço!
- Tens de ver! Não sei é se vais conseguir encontrá-lo."
quarta-feira, 2 de janeiro de 2013
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