terça-feira, 18 de agosto de 2009

4 anos, 2 meses e 13 dias

Num sábado à tarde, dia 23 de Junho de 1984, houve festa de casamento com começo na Igreja de Lourosa, florida e tudo. Sorrisos dos convidados aos noivos e/ou recém-casados, fotografias, filme, todos querendo estar bonitos, muita compreensão, acordo sobre a felicidade, sobre todas as felicidades e felicidades de todos, por fim banquete:


Boa e muita comida e bebida até fartar, familiares e amigos dos dois juntos e contentes a tentar pelo menos naquele festim. Éramos nós, eu e a Mariinha, objectivamente fermentos de uma família, motivo claro, alvo e arquitectos da boda. Os dois amimados e cada um à sua maneira contente.


A partir daí, fomos uma família normal, ouvia-se comentários como este: “que casal feliz”, “ tu és que está bem Zé”, “que “andas sempre contente Mariinha”, e, de facto, as aparências iludem umas vezes e outra não, porque é sempre de desconfiar dos comentários e má-língua de vizinhos, tivemos muitos momentos alegres e atendendo com outras fases da vida, foi de longe a melhor, mais alegre e prometedora;


Foi uma das poucas vezes que as más-línguas, contra as suas vontades, não mentiram!... Às vezes acontece!!! Subjectivamente e/ou objectivamente caminhamos satisfeitos pelos sítios ao nosso dispor, desde a carícia de S. João em 84 até ao dia 06 de Setembro de 1988. Por isso, 4 anos, 2 meses e 13 dias de mútuo contentamento.


Ah!...?, o amor, o erotismo e o sexo...? Calma, temos que levar connosco segredos para túmulo e essas memórias, no actual estado da minha consciência, vão morrer comigo e penso que ela, a minha mulher, nunca contou, nem contará a nossa intimidade.


Foi bom, muito boa essa etapa e má, muito má a nossa separação. Separação que passo a confidenciar logo que poder: No dia 23 de Junho de 2007, outra vez sábado, outra vez véspera de S. João, depois do café no fim almoço, como tinha planeado, vou para casa para tentando usar roupa a condizer com o encontro que era necessário fazer à minha mulher ou esposa, ou melhor ex-mulher ou ex-esposa, mãe da filha mais velha, desculpa lá, da nossa filha, nascida no dia de S.to António de Lisboa ou de Pádua, por isso 13 de Junho de 1987.


Andei nos dois quartos de dormir da casa: o quarto inocente da menina, da nossa menina, no nosso, agora, apenas do meu desleixo, abandonados de carinho, de sorrisos, de amor e mimos e aonde ainda revejo sinais de ternura, os nossos corpos enroscados e contentes, mas a cruel distância do passado para hoje é colossal..., presentemente vejo os lençóis vazios, a cama desfeita, paredes desconfiadas e mais brancas.


As palavras caladas! Se calhar, sentem o odor inebriante de tantos momentos de perdição, com mijo entranhado nos lençóis, os mesmo onde saciei a sede desordenada do impulso erótico/sexual dessa incutida humidade do suor e de sémen, do esperma que deixei com rasto de mulheres nómadas.


As paredes cada vez mais brancas, quase transparentes, magoadas por mim, como vidro cortante. Quarto sem afecto, sem amor, sem limpeza, vacilantes da imundície. O cheiro das paredes indicam mofo e a bolor, por momentos parece que vão falar.


No entanto, é aqui que vou combater as rugas de meio século, com roupa nova ou limpa, passajada pela minha mãe. Vesti as calças de um fato preto, camisa branca com riscas pretas e colete do fato, antes do casaco e sapatos entrei no espelho e:


Tirei a roupa toda menos as cuecas. Nunca foi homem para fatos, para roupa que não uso várias vezes, aquela roupa que já conhece o corpo e o corpo conhece a roupa e eu devia conheço os dois, e, o meu consciente, inconsciente e subconsciente ficam como sempre normais e como o corpo assim coberto é uno e livre.


Se calhar ficam em liberdade a roupa que uso e eu. Era um homem livre, com calças de ganga, camisa de ontem, casaco e sapatos apenas de enfiar. Nada de atacas. Sempre tímido e calado a tarefa era difícil, mas não tinha nada a impedir, vi-me outra vez ao espelho: cabelo penteado, barba escanhoada com ela gosta, o resto já conhecia exactamente:


Era eu, a idade não perdoa e melhor foi impossível. Passei os dedos pelo cabelo peguei nas chaves e saiu. Fecho a porta do escritório à chave e mais 10 metros entro no carro que tinha lavado no dia anterior. Enquanto o carro aquecia tentei não pensar mais no assunto. É hora de agir.


Embora conhecesse bem a sua morada, tinha de bastante atento para descobrir aquele quarteirão, com tamanha amálgama de ideias fico travado, penso, penso, penso... mas ah, estava decidido, vamos Zé, a descer o carro foi destravado...fui.


Algum tempo depois eu olhava para ela e ela olhava para mim. Sim, “tête-a-tête”. Eu que fui lá, tinha alguma declaração, alguma resposta, pergunta, pedido...Uns minutos de silêncio, custa mais é começar a falar esqueci o que pensei antes. Mas:



- Olá Mariinha. Pareceu-me que ela não ouviu.
- Olá Mariinha!. Ah, penso que disse Olá Zé e sorriu. Fiquei contente e ia recuperando a consciência... devagarinho!... Lembrei-me que ela gosta de flores. Esqueci-me... sempre o mesmo... A sua boca de ternura e tino, boa conselheira e sem mimos, os seus lábios sedentos que me matou a sede de doçura tantas vezes estava ali, pertinho.


Notei que ela esperava mais notícias e comecei...
-Pois, é assim... a última vez que nos vimos, assentamos que era necessário afastar alguns hábitos, ou vícios... que se encostam a mim... desculpa!!!... Também falamos sempre da Nela, hoje seria sobre nós os dois, sim? Pronto, aquela cena que achaste piada...



Sim, os projectos dos Centros Paroquias. Ris-te de quê? A minha tolice, consideração e velho hábitos, ataviaram padres e arquitectos... Pois, esperas outra notícias...dei-la lá... já veio o crepúsculo, vem a noite..., venho cá outras vezes...


- Pois a Nela..., a nossa filha está bem, estuda arquitectura no Porto e como sabes, é mãe do Henrique André. Já sabias?... Já somos avós. Antes de venha a noite, vou embora, depois falamos da Manuela... Tá bem?


- Exacto, hoje a tarde foi só para nós... Sabes eu precisa de te ver!
Como não tinha as usuais flores, tirei o lenço da mão, beijei-o e de mansinho com as duas mãos pousei-o na sepultura.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

equinócio de Março

Isabel era uma mulher divorciada e Mário homem viúvo, amigos de longa data com contactos acidentais e/ou supérfluos com 20Km de distanciamento, ela cidadã, ele aldeão. Simpática, verdadeira e sólida amizade; apenas amizade, sem outra ambição.


Começa a cansar a Isabel a estreiteza das “amigas”, seus ciúmes pelos namorados depois do divórcio. Tinha resolvido a bem os problemas como o ex-marido e não queria pensar muito nisso. O amor é difícil, sempre que arriscava uma relação, ia convencida da sua pouca durabilidade e por isso começava e ficar farta da traição das “amigas” aliada à vingança ou fatalidade de ex-namorados.


Não acreditavam em contos de fadas mas tinha direito a mais. Tanto trabalho feito a favor dos humildes, tanta solidariedade… Isso: merecia mais respeito! Ser amiga de quem é nosso amigo. Em cada um de nós há um segredo, uma paisagem interior com planícies invioláveis, vales de silêncio e paraísos secretos. Para quê ter tantos números de telemóveis de homens, de rapazes, de mulheres, pois cada dia se sentia mais vazia.


Tinha que tentar mudar seus hábitos para eventualmente ter uma relação mais séria, mais romântica, mais calma e duradoura. O que se passou, passou e agora ela queria amar, mesmo amar, um homem que a amasse com todas as suas capacidades, aquela relação romântica para durar!...


Mas não ficara nada de relações antigas e apesar de tantas flores murchas, guardava as suas raízes e mantinha o seu próprio carácter e o sensual do seu corpo.

A maior angústia de Mário foi com a morte da mulher. Foi a sua amada, amante e amiga; Foi o apagar de todo o projecto de vida que durante anos foi criando.

Duas pessoas educadas, culturas e parecidas, calmas e pacientes. Ia tudo... A mulher, ia o estilo de vida escolhida e inserido. Foi, necessário médico, amigos antigos, alguns anos, muitas asneiras para tentar viver diferente.

Tentou “boites”, mulheres oferecidas de boas famílias, aceitou um convite em Paris com uma ex-namorada dos seus 20 anos e relacionamento com mulheres de baile, tentou inventar formas novas de explorar o corpo da parceira, etc. etc. etc.

O nosso coração é duro e sentimental e muitos vezes um amor, paixão ou amizade aparecem quando menos se espera. O amor não se ganha pela sua vontade e apoio dos outros, aqui, sua família: Quando assim acontece, tudo corre mal.


Estariam ambos, à sua maneira, ela na cidade e ele na aldeia, longe um do outro, desiludidos com os seus breves parceiros/as ao ponto de não desejarem um romance, um deslumbramento ou contacto sexual? Um e outro avaliam isso e descobriram: Não, não!!!


Era necessário sentir o desejo, ser desejado e senti-lo e todos nós, mulheres e homens temos “aquela” sensibilidade de desejo, de paixão e fantasia que falta descobrir! Com poucos amigo/a(s), como gosta de conversa lembrou-se dela, marcaram encontro no seu apartamento, falaram questões de cultura e nesse ano iriam os dois juntos ver um filme ao Fantas.


Após o jantar, que ela fez fantas(ticamente), decidiram ver um filme de terror, sobre vampiros nórdicos com começo de madrugada. Acabado o filme já tarde depois de separados e com automóveis em sítios diferentes, apressadamente metem a chave na ignição, os carros a funcionar e prontos a arrancar.


Ela mais rápida ou ele sem vontade de ir embora, passa por ele e afrouxa. Ele aproveita e diz:
- Então Isabel, onde vais, agora... dormir?
- Pois a esta hora! Vou aonde...?...
- Sei lá...estamos...
- Vamos a tua casa?!... - Pude ser, depois... embaraçou-se o Mário! - Sim ou não!?... - Sim, sim, eu quero dizer sim, vamos!...



- Eu vou atrás de ti!.. Foram os dois carros ligeiros, com condutor na frente e condutora metros atrás inquietos na expectativa até chegarem à casa na aldeia. A primeira vez que se viam naquela situação.


Os olhares eram lindos, os olhos concentrados, viam amabilidade, sensualidade e lúbrico abrigo. O olhar não fala, os corações contentes contagiam um ao outro, já na cozinha ela bebe um whiky. Ele imita-a, ela bebe outro... depois um beijo na boca, trocam olhares que seduzem, enternecem e aproximam.


Agora com outro beijo onde a(s) língua(s) se eterniza(m) até tirar o fôlego, ficaram completamente excitados, o ombro dele devagarinho, puxando para um quarto, ela a tentar despir-se, botões, tantos a tirar, roupa para o chão e pedir – “fode-me”.


Claro que não disse. Depois de despidos com tanta pressa, os dois na cama ainda havia o “soutien” a tirar... Unidos, torcidos, enroscados os dois procurando o cimo do outro até que pacientemente ele conseguiu a passagem da mão esquerda e com os dedos buscar a sua racha embebida e quente, primeiro um dedo no reguinho cada sempre vez mais húmido, delícia dela e nascente de prazer dele, depois dois dedos, ela chupa o pau dele cada vez mais erecto a boca dele não parava entre os seios de bicos arrebitados e as duas línguas perdidamente se acorrentam.


O pau mais duro, pronto a explodir ela contrai-se com um orgasmo, cada vez mais molhada e desejosa de mais, ele firme mas dócil, ela falando ou gemendo ele meigo com o silencio, ela coloca o pénis duro que pulsava nos seus dedos e introduziu na sua alagada racha e por cima dele.


Unidos pelo prazer da invasão, um dentro do outro naquela cavalgada, sobe e desce, ele ritmava o andar das suas nádegas, ela com o prazer daquele membro enterrado com estocadas firmes e vigorosas, o claro da luz, fica embaciado, a cama quente do fogo, as paredes incendeiam-se rapidamente, ele esporasse, dispara, ao mesmo tempo que ela tem o segundo orgasmo e gritam os dois com o sémen que brotou nela e sai o primeiro grito de gozo (até parecia afinado).


Nenhum vizinho que queixou e foi assim a primeira “morte de consolo”. Era necessário descansar. Foi a estrela de alva, a Aurora, cinco da manhã, seis da manhã. Bem, tinham muito tempo para dormir, era domingo; mas não dormiram! É, não dormiram tempo nenhum!...


O seu peito, mar de ondas calmas e pêlos amenos, enrolado nos seios dela; os seios dela com os bicos excitados e acalorados nos mamilos dele!... Com esta macieza, eles se amaram outra vez, outra vez, outra vez…


O texto vai longo e, o resto da noite e manhã de amor fica guardado apenas para eles. Sei que tomaram o pequeno-almoço e almoço, tomaram café ao Furadouro e falaram de coisas esotéricas, deuses, semi-deuses, maçonaria, astrologia, necessidade de saber, etc. Ah, sobre geografia, descobriram que o Equinócio (d´eles) de Março começou ontem.