sábado, 12 de janeiro de 2013

internet.


"Eu ainda sou do tempo (pronto, lá vem este…) em que não havia internet.

- Jura?

- Juro.

- Incrível!

- Pois é.

- E as galinhas também tinham dentes?

- Vê lá se queres ficar como as galinhas… E como não havia internet, acontecia-me muitas vezes, durante a leitura de um livro, cruzar-me com a descrição de uma pintura que eu desconhecia. Ora, como fazer então para encontrá-la? Se tivesse algum livro à mão sobre determinado autor ou corrente ainda podia tentar, mas raramente conseguia, porque os escritores não se põem a falar de um qualquer quadro que toda a gente conhece, não é assim? Qual é o interesse em descrever os girassóis do Van Gogh ou a Gioconda? Nenhum, a não ser que o autor se chame Dan Brown ou algo do género. Mas o mais irritante acontecia quando o autor se lembrava de panegiricar (é escusado ir ao dicionário, não existe) uma determinada pintura até ao infinito, pois já se sabia que era quase impossível encontrá-la. Podia-se tentar em bibliotecas, livrarias e nada. Sempre que o elogio e a descrição eram extensas, pimba, era tiro e queda, mais valia procurar o santo graal que tínhamos mais hipóteses de sucesso. É assim como aquelas conversas de café: eia, pá, aquele disco é muito bom, conheces?

 - Conheço, mas o melhor é o X.

- Não conheço.

- Pois não, é um bootleg e só existem 3 cópias, mas é de longe o melhor disco dessa banda.

- Ora foda-se!

- Ou, então, com os filmes: vi ontem um filme do caraças, daquele realizador moldavo, conheces?

- Conheço, mas esse não é o melhor dele. O melhor vi eu, numa cave em mil novecentos e troca o passo, na antiga União Soviética, numa sessão privada, e que nunca mais foi repetida. Esse, sim, é de longe o melhor filme dele.

- Olha, sabes que mais? Vai cagar, man. O melhor é sempre aquilo que ninguém, ou quase ninguém, pôs os olhos ou os ouvidos em cima. Adiante (ou avante, é à escolha).

 

Agora, como se pode ver pelo post em baixo, sempre, ou melhor, quase sempre, quer dizer, às vezes, quando me cruzo como uma passagem dessas trato logo de pesquisar a tal pintura e colocar aqui no arquivo. Ainda não concluí se é uma vantagem, porque tenho a sensação de que anteriormente aquela descrição perdurava mais na minha memória. Em contrapartida, também me esquecia mais frequentemente dessas passagens do livro. Entre perdas e ganhos julgo que, para já, a internet leva vantagem.

- Conheces aquele filme de um realizador do Bornéu?

- Não.

- Eia, pá, que filmaço!

- Tens de ver! Não sei é se vais conseguir encontrá-lo."

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