"Como o senhor vê a luta de classes hoje e os movimentos de
protesto que falam em transformação através da ideia de que somos “os 99%”? Há
dois tipos de possibilidades sendo debatidas. Uma seria manter o capitalismo
através de mecanismos de retenção e regulação, o que poderia causar flutuações,
mas não grandes fracturas. Seria uma forma de reorquestrar o capitalismo para
que não causasse tantos danos como hoje, para promover mais igualdade, alguma
distribuição de riqueza e sustentabilidade ambiental, como muitos na esquerda
defendem. Outras pessoas dizem que não há saída no modo de produção capitalista
e que é necessário buscar outras alternativas, com mudanças estruturais
políticas e económicas. É claro que as crises podem ocorrer em qualquer
sistema, já que não é possível imaginar uma sociedade onde tudo funcionaria
perfeitamente. Mas em um sistema não-capitalista as crises seriam de outro
tipo. Acho que estamos nessa encruzilhada histórica, onde não temos muita
segurança do que seria possível. Então surge o debate sobre reforma ou
revolução. Eu acredito que há reformas que levam à revolução. As economias se
tornaram tão interdependentes que uma proposta de revolução imediata poderia
gerar catástrofes com muitas mortes. Então a questão seria avaliar que tipo de
reformas teria um carácter revolucionário e levaria a outro sistema que
abolisse a relação de classe, já que a essência do capitalismo é a relação
entre capital e trabalho. Portanto, um projecto anticapitalista teria de
erradicar a relação de classe. Há diversos movimentos pensando nessa direcção
como, por exemplo, as cooperativas de trabalhadores que recuperaram fábricas,
mas alguns acabam reproduzindo um sistema de exploração capitalista, no qual os
trabalhadores são seus próprios patrões. Portanto, não é suficiente pensarmos
em termos de microeconomia, é necessário repensar a macroeconomia."
David Harvey
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