(Coluna de opinião do Semanário Expresso)
Nicolau Santos
Senhor
Primeiro-ministro,
depois das medidas que anunciou sinto uma força a crescer-me
nos dedos e uma raiva a nascer-me nos dentes. Também eu, senhor
Primeiro-ministro. Só me apetece rugir!…O que o Senhor fez, foi um Roubo! Um Roubo
descarado à classe média, no alto da sua impunidade política! Por isso, um
duplo roubo: pelo crime em si e pela indecorosa impunidade de que se revestiu.
E, ainda pior: Vossa Excelência matou o País! Invoca Sua Sumidade, que as
medidas são suas, mas o défice é do Sócrates! Só os tolos caem na esparrela
desse argumento. O défice já vem do tempo de Cavaco Silva, quando, como bom
aluno que foi, nos anos 80, a mando dos donos da Europa, decidiu, a troco de
700 milhões de contos anuais, acabar com as Pescas, a Agricultura e a
Industria. Farisaicamente, Bruxelas pagava então, aos pescadores para não
pescarem e aos agricultores para não cultivarem. O resultado, foi uma total
dependência alimentar, uma decadência industrial e investimentos faraónicos no
cimento e no alcatrão. Bens, não transaccionáveis, que significaram o êxodo
rural para o litoral, corrupção larvar e uma classe de novos muitíssimo-ricos.
Toda esta tragédia, que mergulhou um País numa espiral deficitária, acabou,
fragorosamente, com Sócrates. O défice é de toda esta gente, que hoje vive
gozando as delícias das suas malfeitorias. E você é o herdeiro e o filho
predilecto de todos estes que você, agora, hipocritamente, quer pôr no banco
dos réus? Mas o Senhor também é responsável por esta crise. Tem as suas asas
crivadas pelo chumbo da sua própria espingarda. Porque deitou abaixo o PEC4, de
má memória, dando asas aos abutres financeiros para inflacionarem a dívida para
valores insuportáveis e porque invocou como motivo para tal chumbo, o carácter excessivo
dessas medidas. Prometeu, entretanto, não subir os impostos. Depois, já no
poder, anunciou como excepcional, o corte no subsídio de Natal. Agora, isto!
Até a este colossal embuste, que é o Orçamento
Geral do Estado. Diz Vossa Eminência que não tinha outra saída. Ou seja, todas
as soluções passam pelo ataque ao Trabalho e pela defesa do Capital Financeiro.
Outro embuste. Já se sabia no que resultaram estas mesmas medidas na Grécia: no
desemprego, na recessão e num défice ainda maior. Pois o senhor, incauto e
ignorante, não se importou de importar tão assassina cartilha. Sem Economia,
não há Finanças, deveria saber o Senhor. Com ainda menos Economia (a recessão
atingirá valores perto do 5% em 2012), com muito mais falências e com o
desemprego a atingir o colossal valor de 20%, onde vai Sua Sabedoria buscar
receitas para corrigir o défice? Com a banca descapitalizada (para onde foram
os biliões do BPN?), como traçará linhas de crédito para as pequenas e médias
empresas, responsáveis por 90% do desemprego? O Senhor burlou-nos e
espoliou-nos. Teve a admirável coragem de sacar aos indefesos dos
trabalhadores, com a esfarrapada desculpa de não ter outra hipótese. E há
tantas! Dou-lhe um exemplo: o Metro do Porto. Tem um prejuízo de 3.500 milhões
de euros, é todo à superfície e tem uma oferta 400 vezes (!!!) superior à
procura. Tudo alinhavado à medida de uns tantos autarcas, embandeirados por
Valentim Loureiro. Outro exemplo: as parcerias público-privadas, grande
sugadouro das finanças públicas. Outro exemplo: Dizem os estudos que, se V.
Ex.ª cortasse na mesma percentagem, os rendimentos das 10 maiores fortunas de
Portugal, ficaríamos aliviadinhos de todo, desta canga deficitária. Até porque
foram elas, as grandes beneficiárias desta orgia grega que nos tramou. Estaria
horas, a desfiar exemplos e Você não gastou um minuto em pensar em deslocar-se
a Bruxelas, para dilatar no tempo, as gravosas medidas que anunciou, para
Salvar Portugal! Diz Boaventura de Sousa Santos que o Senhor Primeiro-ministro
é um homem sem experiência, sem ideias e sem substrato académico para tais
andanças. Concordo! Como não sabe, pretende ser um bom aluno dos mandantes da
Europa, esperando deles, compreensão e consideração. Genuína ingenuidade! Com
tudo isto, passou de bom aluno, para lacaio da senhora Merkel e do senhor
Sarkhozy, quando precisávamos, não de um bom aluno, mas de um Mestre, de um
Líder, com uma Ideia e um Projecto para Portugal. O Senhor, ao desistir da
Economia, desistiu de Portugal! Foi o coveiro da nossa independência. Hoje, é,
apenas, o Gauleiter de Berlim. Demita-se, senhor primeiro-ministro, antes que
seja o Povo a demiti-lo.
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