O que verdadeiramente nos mata, o que torna esta conjuntura
inquietadora, cheia de angústia, estrelada de luzes negras, quase lutuosa, é a
desconfiança.
O povo, simples e bom, não confia nos homens que hoje tão espetaculosamente
estão meneando a púrpura de ministros.
Os eleitores não
confiam nos seus mandatários, porque lhes bradam em vão: «Sede honrados», e
vêem-nos apesar disso adormecido no seio ministerial.
Os homens da oposição não confiam uns nos outros e vão para
o ataque, deitando uns aos outros, combatentes amigos, um turvo olhar de
ameaça. Esta desconfiança perpétua leva à confusão e à indiferença. O estado de
expectativa e de demora cansa os espíritos.
Não se pressentem soluções nem resultados definitivos:
grandes torneios de palavras, discussões aparatosas e sonoras; o país, vendo os
mesmos homens pisarem o solo político, os mesmos ameaços de fisco, a mesma
gradativa decadência. A política, sem actos, sem factos, sem resultados, é
estéril e adormecedora.
(Póvoa de Varzim, 25 de novembro de 1845 — Paris, 16 de agosto de 1900)
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