domingo, 21 de agosto de 2011

Os pobres pagam tudo...

"Ser sério sobre a partilha dos sacrifícios" é como Warren Buffett, o terceiro homem mais rico do mundo se dirigie ao Governo dos Estados Unidos. "Parem de nos mimar com isenções fiscais", denuncia ele, num artigo publicado no passado domingo, no New York Times. E os dados que fornece são absolutamente escandalosos, sobretudo num tempo em que se agravam os impostos e as condições de vida para as classes médias e, sobretudo, para os mais pobres.


Em Portugal, a realidade é certamente diversa, mas num ponto, decisivo, coincide: com o argumento de criar melhores condições de competitividade aos empregadores e às empresas, os que menos têm e menos podem são os mais sobrecarregados com as medidas drásticas já tomadas e a anunciadas. Os ricos estão cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres. Os dados recentemente divulgados não deixam margem para dúvidas: as 25 maiores fortunas do país, cujo valor excede os 17 mil milhões de euros, viram, em tempo de crise, esse valor crescer 17,8% face a 2010, representando agora a 10,1% do PIB português, segundo um estudo anual da revista Exame.

Será de esperar algum gesto do tipo do de Warren Buffett da parte de algum dos líderes das maiores fortunas portuguesas? Julgo que podemos esperar sentados. Só se for para se queixarem de que o Estado os não deixa ir tão longe quanto pretendem. Essa era, pelo menos, a música, até há pouco tempo.

Mas raramente se ouve os que defendem a justiça social e o combate à pobreza a denunciar esta desigualdade que destrói a dignidade humana e mina a sociedade. Raramente os vemos exigir solidariedade e equidade no esforço que é pedido a todos em tempo de crise grave. Vemos vozes a exigir que, nas medidas do Estado, sejam salvaguardados os grupos de menores recursos, mas não vemos denunciar a soberba dos economicamente poderosos. As migalhas que estes possam dar a esta ou àquela instituição não podem calar a denúncia desta injustiça estrutural.



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