“O número de artigos e notas em blogues que começam com “a
decisão do Tribunal Constitucional fez e aconteceu….” representam um sucesso do
pensamento único governamental. Na verdade, deviam começar com “a política do
governo fez e aconteceu…” Isto, porque a decisão do Tribunal Constitucional é
que é a normalidade e a lei, e a política do governo é que é a anormalidade e a
ilegalidade. A decisão do Tribunal Constitucional representa uma consequência
da política do governo, das escolhas do governo, da incapacidade do governo de
encontrar políticas de contenção orçamental que não passem pela violação da lei
e pelo afrontamento da Constituição.
Mais: o caminho
seguido pelo governo para o objectivo de cumprimento do memorando da troika é
que põe em causa esse cumprimento, porque não teve em conta qualquer
preocupação em salvar um quantum da economia nacional, desprezou os efeitos
sociais do “ir para além da troika”, não deu importância a qualquer
entendimento social e político, vital em momentos de crise. Foi um caminho de
pura engenharia social, económica e política, prosseguido com arrogância por
uma mistura de técnicos alcandorados à infalibilidade com políticos de aviário,
órfãos de cultura e pensamento, permeáveis a que os interesses instalados
definissem os limites da sua política. Quiseram servir os poderosos com um
imenso complexo de inferioridade social, e mostraram sempre (mostrou-o de novo
o primeiro-ministro ontem), um revanchismo agressivo com os mais fracos.
Pensaram sempre em
atacar salários, pensões, reformas, rendimentos individuais e das famílias,
serviços públicos para os mais necessitados e nunca em rendas estatais,
contratos leoninos, interesses da banca, abusos e cartéis das grandes empresas.
Pode-se dizer que fizeram uma escolha entre duas opções, mas a verdade é que
nunca houve opção: vieram para fazer o que fizeram, vieram para fazer o que
estão a fazer.” ( Pacheco Pereira)
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