‒ Repara no lado esquerdo e verás a água salgada da ria.
Mais quinhentos metros e estamos na Torreira, estou morto para te ter ao meu
lado, mais perto de mim…
Como não havia trânsito, nem sinais – qual pisca-pisca –
virou para o lado esquerdo, travou e estava o carro estacionado. Abriu a porta,
saiu do carro e abriu a outra porta e, daí, saiu a sua Lia.
Olhando um para o
outro, abraçaram-se. Ou ele tinha crescido ou ela mingado, tal parecia no
primeiro impacto. Deram a mão um ao outro e foram observar a ria. Sentaram-se
no paredão, virados para a ria, perto do embarcadouro, com barcos de recreio e
barcos de pesca. Não havia ali o moliceiro, o barco característico desta ria.
Olharam ao mesmo
tempo para o lado esquerdo e para o lado direito: tanta água! Ergueram os olhos
e, daquela margem, contemplavam a outra. Ao observarem-se um ao outro,
levantaram-se: a Lia pôs o rosto no ombro dele, as mãos dele delicadamente
tocaram o rosto dela. As mãos de um tocavam no rosto do outro. Ambas as bocas
abertas, enviesadas. Amélia cravou as unhas nas costas sob a camisa dele. Mil
vezes mais rápida: encostou os seus lábios nos lábios dele.
As línguas não se
largaram. Carícias nos rostos, os corpos cada vez mais apertados. Ele assentou
o joelho esquerdo entre as pernas abertas, apenas o que a saia permitia, com a
dobra muito repuxada, subindo tudo o que podia. Ela mexeu-se várias vezes sem
complexos. Ele sentiu várias vezes a fendinha dela, um lábio vaginal de um
lado, o outro lábio vaginal do outro. O que a sua perna sentia informava o
cérebro e, como o corpo é uno, todo ele estava embalado nesta agitação. Com o
prazer que ela sentia nestas posições, apertava-o mais, portanto. Também o gozo
dele aumentou e aumentou mais quando ela, finalmente, conseguiu apalpar o
pincel dele, endireitado! Já não era possível encontrarem-se mais, serem dois
num só corpo. Apesar disso tentam, e há pelo menos o prazer que ambos sentem.
Um vento forte pôs-se
a assobiar, com cheiro a iodo, e a abanar os barcos, causando pequenas ondas na
ria: um ruído suave, acariciante como uma lufada de ar macio, como se veludo
lhes fosse passando pelas cabeças… Aquele fiozinho de água, que o vento
arrastou depois de embater num rochedo, foi razoável para terem a noção do
tempo gasto num beijo. Beijo muito saboroso e princípio lúbrico e histórico.
Voltaram a sentaram-se no paredão, mesmo humedecido. Passaram muitos minutos a
repararem um no outro: ambos descobriram ângulos distintos que não conheciam.
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