Carla Maria tinha uma aparência requintada: vestido prateado
com rosas coradas ventiladas nos ramos flexíveis, com tantas cores diferentes,
com mais ou menos luz; cinto vermelho, pernas torneadas a notar-se até ao cimo;
seios fartos e espevitados, rasando a idade juvenil; sobrancelhas delgadas e
proeminentes, pretas, assim como o cabelo crescido, cortado dois centímetro
acima dos olhos, atado perto do pescoço e inclinado sobre o ombro esquerdo,
aquecendo o seu coração entre ambas as mamas,
e findando na cinta, preso com um laço vermelho que anunciava o umbigo.
Tinha os lábios grandes e rosados, o nariz delicado e pouco comprido, os olhos
grandes com pupilas pretas e enormes pestanas. Tinha uma beleza inata.
Esta Maria, terminou o curso de belas-artes, e ajudou o
Mário no atelier, várias vezes, como modelo. Modelo aqui, modelo acolá,
primeiro na cidade do Porto e depois em Lisboa voou longe. Em diálogo com o Emídio,
começou novamente a pintar e andava contente com semelhante projecto. Pouco
falou e pouco foram as palavras para si. O facto de viver numa casa na quinta
do Emídio era um assunto interno. Sabia, perfeitamente, que tantos olhares de
frente ou de viés seriam por ser desconhecida; ali apenas conhecia o primo e o
Mário, mas não faria o mesmo, não olhava de soslaio para ninhuém… confiava!
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